terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Talvez


Joandre O. Melo
Cadeira: nº 20

Talvez, quando eu me aposentar eu realmente me torne um homem ou, pelo menos me aproxime do que seja um homem; do que ele pode ser, fazer e sentir. Por enquanto, sou apenas um pedaço de carne que anda, come, bebe, veste, faz sexo, ama, descansa, pensa. Enfim, apenas um pedaço de carne que vive para o sistema e que se consome em nome dele.
Talvez, eu não passe de gado; guiado pelas veredas que me levam a lugar nenhum. Pelo caminho, há apenas um pouco de palha para que eu possa comer e um pouco de água para beber. Vejo outros como eu. porém gordos; movem-se freneticamente, comem grama fresca; muita, muita grama e vegetais que eu nem conheço e bebem águas claras que deságuam de enormes e refrescantes cascastas. Olho para trás e vejo outros como eu ou, talvez, até em piores condições; corpos chupados, andar trôpego, talvez mais do que o meu. Quando conseguem um pouco de palha, comem. Água! Só o que sobra do resfetalar-se do gado gordo.
E assim caminho; cada dia, é um dia a menos. Eu penso comigo: graças a Deus, um dia a menos....
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(*) Ilustração feita por Joandre Oliveira Melo, três de janeiro de 2009. A intenção era mostrar um burrinho puxando uma carroça transbordando cenouras fresquinhas e um fazendeiro a guiar o burrinho com uma destas suculentas cenouras. Porém, o burrinho jamais comerá a cenoura e nunca saberá o peso que está carregando nas costas. É uma caricatura da visão que tenho do Capitalismo.

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